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Friday 21 November 2014

Curta / Short story: Uma semana... Sem rede!


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Uma semana... Sem rede!
Célia Paulo © 2014





E assim começa...
Uma semana.
Sem internet.
Sem telemóvel.
Sem televisão.
De certa maneira escolhi a melhor semana para o fazer, pois vou estar longe da minha zona de conforto. Da família e amigos. Da rotina do quotidiano.
De certa maneira escolhi a pior semana para o fazer, pois vou estar longe da minha zona de conforto. Da família e amigos. Da rotina do quotidiano.
Admito que me sinto intimidada, até um pouco assustada. Como irei eu lidar com a situação?
E se necessitarem de me contactar com urgência, e se houver um estado de emergência mundial, e se… as possibilidades são infinitas.
No entanto, acho importante manter a menta aberta quanto a esta experiência, pois, quem sabe com que situações interessantes e surpreendentes me vou deparar.
Apesar de ter sido eu a decidir fazê-lo, por achar ser importante reencontrar-me comigo própria e com o mundo natural, sem qualquer interferência externa. Eu a querer ter esta vivência, não consigo deixar de sentir uma certa apreensão.
Uma semana incomunicada, na comunidade Findhorn Foundation que é uma eco-vila de educação espiritual e holística, na Escócia.
Aqui vou eu!
Sem rede…
Dia 1 – Lindo, maravilhoso, deslumbrante.
Tirando a área residencial, tudo à volta é verde. Floresta, campo, hortas, jardins, e até um labirinto de urze mais alto do que eu.
Sou levada pela anfitriã que me foi atribuída para fazer o circuito de boas-vindas à comunidade, e esta vai explicando-me como a “semana de experiência” (que é como chamam a este retiro) é a maneira ideal de vivenciar a dinâmica da vida comunitária na Findhorn. Desde a sua fundação em 1962, esta comunidade tornou-se conhecida pelo seu trabalho com as plantas e a comunicação com os reinos naturais. Seu compromisso com a prática espiritual no dia-a-dia e a comunicação com a inteligência da natureza resultaram em jardins extraordinários.   
A comunidade continua afirmando a interconexão de toda a vida, através de estruturas espiritualmente, socialmente e economicamente sustentáveis, incluindo o uso de técnicas de construção ecológicas, geração de energia responsável, reciclagem e produção de alimentos orgânicos.
Nesta comunidade, todos colaboram nas tarefas diárias, na meditação de boas vindas ao amanhecer, e a prece noturna de agradecimento pelas bênçãos recebidas. O resto do dia é passado, desde que em conformidade com as normas da “casa”, da maneira que mais apele a cada individuo. Há palestras, workshops e várias atividades criativas e de desenvolvimento pessoal. O “lema” da comunidade é que todos os participantes se sintam interconectados por uma visão positiva da humanidade e da Terra.
Bom, só sei dizer que quando dei por mim o dia tinha passado. Entre passear, ser apresentada a inúmeras pessoas de várias nacionalidades, de tomar as refeições (elaboradas com os alimentos produzidos nas hortas da comunidade), conhecer o espaço lindo de que vou usufruir durante mais 6 dias e conversar animadamente com a Tracy (a minha anfitriã que já mais me parece uma amiga de longa data), nem sequer me lembrei de que estava “desconectada” da tecnologia. Acho mesmo que nunca me senti tão conectada com o mundo que me rodeia e o que nele é realmente importante. Neste sítio maravilhoso em que o sentido de comunidade é algo vibrante, vivo e quase palpável, sinto-me em casa.
Estou entusiasmada com a perspetiva do dia de amanhã.
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Dia 7 – Pois é… a ideia inicial era de escrever diariamente sobre esta minha aventura de “detox de tecnologia” e de “spa para a alma”, no entanto, tenho vivido dias tão repletos de alegria, criatividade e comunhão total com o espaço, as pessoas, a energia deste lugar fantástico, que… quase que diria que perdi a noção do tempo, mas a verdade é que nunca me senti tão “dentro” do tempo…
Aqui não há rotina, mas os dias que não registei por escrito e que para sempre ficarão “escritos” na minha memória, passaram-se mais ou menos assim: Despertamos ao nascer do dia com um “chamamento” musical de tão harmoniosos sons que mais parece um coro angelical a dar-nos as boas vindas. Juntamo-nos no salão comunal para a meditação da manhã, depois temos o pequeno-almoço, seguido pela distribuição de tarefas (que tanto podem ser na horta, como na cozinha ou noutro local que precise da atenção “da comunidade”), e estas são sempre recebidas e executadas com boa disposição e muita gargalhada pelo meio. Entretanto chega a hora de almoço, que é sempre um convívio muito animado. A parte da tarde é quando temos autonomia para escolhermos em que atividades queremos participar, o que não é nada fácil pois há sempre muitas coisas interessantes a acontecer, desde atividades criativas (pintura com as mais variadas técnicas e suportes, dança, expressão vocal, exercícios cénicos de improviso, etc.), a palestras e workshops, ou simplesmente as caminhadas pelos trilhos lindos de Findhorn (que foi por onde enveredei esta tarde, a minha ultima desta semana que passou tão rapidamente, e que me trouxe aqui, a esta colina verdejante de onde vislumbro um lago que reflete as cores do céu, e é aqui, “nesta pedra cinzenta, onde me sento e descanso”, e onde tento, de alguma forma, sumarizar a minha estadia aqui, nesta folhas de papel em que a tinta da caneta vai desenhando a traços largos os contornos de sons, cores, aromas, horizontes e sentidos, de palavras soltas, que assim, a cru, tão pouco refletem desta semana que foi um dia, uma vida. Sei que o que aqui vivenciei, deixa-me com uma “mala cheia de material” para refletir, aprofundar, pesquisar. Sinto que isto não fica por aqui… Tem sido a experiência mais enriquecedora de minha vida. Tenho adorado cada segundo e conhecido pessoas fantásticas e muito interessantes. Tenho-me “puxado” para além dos meus limites de conforto e feito coisas que nunca tinha feito (como limpar um galinheiro, ou exercícios a interagir com desconhecidos em contextos de improviso hilariantes e às vezes desconfortáveis (para quem como eu, ainda tem alguma dificuldade em desvincular-me daquilo que os outros possam ou não pensar “das minhas figuras”). Tem sido uma grande aprendizagem, quase diria que, um salto quântico na minha evolução pessoal.
Tudo isto sem rede… Até tinha a sala de entretenimento com T.V. e computador com internet, de que podíamos usufruir e que me foi mostrada no primeiro dia, mas… não, quis fazer abstinência total.
Tive saudades? Sim, tive saudades de falar com alguns familiares e amigos e de partilhar certos momentos com eles. Senti falta da internet para fazer “um monte” de pesquisas de assuntos que aqui foram falados/apresentados, e de adicionar “bué” de novos amigos no Fb, mas, para isso, tenho comigo apontamentos que fui fazendo de tudo o que me interessou, e anotei contactos de novos amigos, acho que, dos quatro cantos do mundo, para depois adicionar nas redes sociais.
Do que senti menos falta foi da T.V. com as suas incontornáveis (más) notícias das oito, novelas e mais novelas ou pior ainda, a entorpecedora casa dos segredos.
Bom, vou levantar desta pedra cinzenta e dura… e pôr-me ao caminho, que tenho um jantar agridoce que me aguarda não tarda nada (e não me refiro ao tipo de comida que será servida, pois os jantares são sempre em ambiente de festa, iniciando com a prece de agradecimento, seguidamente deliciamo-nos com a excelente comida e com a partilha das experiências do dia, histórias, e outros assuntos interessantes. Depois, por norma, à cantigas, guitarrada e muita gargalhada, até à hora da caminha, sendo que esta noite e para mim será a da despedida). Sei que vou divertir-me, mas também sei que vou chorar… Agridoce.

Quanto ao dia de amanhã… Só espero que o mundo não tenha acabado na minha ausência! J

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